Jogas futebol e receias as lesões musculares? É verdade que podes vir a sofrer com elas e entre as mais comuns encontra-se a lesão de isquiotibiais. No presente artigo quero ensinar-te como a prevenir e, no caso de vires a sofrer com ela, como a tratar para regressar nos prazos indicados ao relvado.
Uma lesão de isquiotibiais no futebol é uma das mais comuns no mundo do futebol. Porquê? Vou agora explicar-te porquê.
Índice
- 1 O que são os isquiotibiais?
- 2 A sua importância no futebol
- 3 Como é que ocorre a lesão de isquiotibiais no futebol?
- 4 Por que motivo é a lesão de futebol mais comum?
- 5 Como prevenir a lesão de ísquios?
- 6 Como recuperar de uma lesão de isquiotibiais: Tratamento
- 7 Quanto tempo vou ficar de baixa?
- 8 Bibliografia e fontes:
O que são os isquiotibiais?
Existe uma certa polémica com o nome deste grupo de músculos, já que os peritos asseguram que o seu verdadeiro nome é músculos isquiossurais (o distintivo isquiotibial faz referência ao facto de irem do ísquio até à tíbia, esquecendo o perónio).
Dentro deste grupo de músculos encontramos:
- Músculo Semi-membranoso.
- Bíceps Femoral, que é composto por uma cabeça longa e uma cabeça curta.
- Semi-tendinoso.
Os três músculos que constituem os isquiotibiais.
A sua importância no futebol
A importância deste grupo de músculos no futebol (e no desporto em geral) reside nas suas funções. Os isquiotibiais (ou isquiossurais) têm, principalmente, 2 funções:
- Extensão da anca.
- Flexão do joelho.
Além disso, segundo a posição do joelho, tem mais 2 funções:
- Rotação interna da anca (com o joelho esticado).
- Rotação externa do joelho (com o joelho fletido).
Estas funções são de grande importância para a corrida, na qual se produz, em cada passada, uma flexoextensão tanto da anca como do joelho ao longo do mesmo, regulada pelos músculos da coxa (isquiotibiais e quadriceps principalmente).
Por isso, sendo o futebol um desporto intermitente de alta intensidade, no qual ocorrem muitas ações à intensidade máxima, os isquiotibiais ou isquiossurais devem suportar cargas muito elevadas, tanto em número como em intensidade.
Como é que ocorre a lesão de isquiotibiais no futebol?
Dentro das lesões que incluem a musculatura isquiotibial, a mais comum é a da cabeça longa do bíceps femoral.
Esta lesão ocorre no início da fase de apoio da corrida, momento no qual a nossa anca se encontra fletida e o nosso joelho esticado, e o nosso bíceps femoral recebe tensão de ambas as extremidades.
Por que motivo é a lesão de futebol mais comum?
A lesão da cabeça longa do bíceps femoral ocorre geralmente por uma utilização excessiva deste músculo.
O que significa que o músculo, no momento da sua rutura, se encontra fatigado, seja por uma carga excessiva ou por uma má recuperação.
Conforme referimos anteriormente, no futebol ocorrem várias ações a alta intensidade, com cerca de 16,6 ± 7,9 sprints por jogo. Se a isso somarmos todas as ações que são realizadas ao longo da semana de treinos, a carga que este músculo recebe é bastante significativa.
Como prevenir a lesão de ísquios?
O principal problema no momento de tentar prevenir estas lesões é que, geralmente, nos concentramos no próprio músculo como um ente isolado, e não como parte de algo maior.
Devemos entender que os isquiotibiais são parte de uma cadeia que é responsável por absorver e transmitir forças durante todos os nossos movimentos e que, por muito que os trabalhemos, se o resto da cadeia não se encontrar em condições de trabalhar com a mesma intensidade, devemos compensar esses défices com um excesso de solicitação dos isquiotibiais, o que pode resultar nesta lesão por excesso de utilização que referimos anteriormente.
Por isso, o primeiro passo é trabalhar toda a musculatura envolvida na corrida de forma conjunta.
Neste sentido, devemos entender que a lesão de isquiotibiais no futebol é multifatorial, isto é, que o seu aparecimento resulta da soma de vários fatores muito diferentes. Por isso, se trabalharmos apenas a força, estaremos a esquecer outros fatores igualmente importantes para tentar reduzir as possibilidades de ocorrerem lesões.
Apesar do grande número de fatores a ter em conta, acima de tudo é importante levar um controlo correto das cargas por parte da equipa técnica, para evitar expôr os jogadores a maior carga do que aquela que podem suportar.
O que faço para evitar ficar lesionado nos isquiotibiais?
Para referir alguns destes fatores (mesmo que existam muitos mais), devemos ter uma atenção especial a:
- Técnica de corrida correta.
- Trabalho de força específico do desporto.
- Proprioceção.
- Incluir trabalho de sprints.
- Descanso e nutrição.
- Deteção e redução de descompensações (tanto entre músculos da mesma perna como entre ambas as pernas).
A lista pode alargar-se muito, uma vez que existem dezenas de fatores que podem influenciar, direta ou indiretamente, no estado da nossa musculatura.
Por isso, hoje em dia, a ciência não conseguiu realmente prevenir esta lesão, o máximo que conseguiu foi reduzir, em certa medida, as possibilidades de vir a sofrer com ela.
Exercícios de prevenção
Conforme referi anteriormente, a lesão de isquiotibiais ou isquiossurais tem uma etiologia multifatorial, pelo que a redução das possibilidades de sofrer desta lesão deve atender a todos aqueles fatores que entrem dentro do grupo dos ‘modificáveis’.
Segundo a literatura científica, um dos trabalhos mais eficientes na prevenção de lesões de isquiotibiais é o trabalho de força excêntrica.
A força excêntrica é aquela que é produzida quando ativamos as fibras de um músculo que está a ser alongado.
No entanto, nem todos os exercícios de força excêntrica são igualmente eficientes. Devemos procurar aqueles que constituam uma carga semelhante àquela que a nossa musculatura suporta durante a corrida, tanto ao nível de intensidade como de velocidade de contração.
Como podes comprovar, os exercícios propostos são todos a uma perna. A razão principal deste método é que vamos tentar que os exercícios sejam o mais parecidos possível com o desporto que praticamos, pelo que não faria muito sentido fazer exercícios sentados, deitados ou com as duas pernas ao mesmo tempo.
O que vai ser muito eficaz por ser o mecanismo de lesão por excelência do bíceps femoral no futebol pelo que, se a musculatura estiver adaptada para suportar este tipo de cargas, a possibilidade de lesão vai ser reduzida (desde que o façamos em doses e momentos coerentes).
Following scans and clinical assessment, we can confirm that @dele_official has suffered a hamstring strain, sustained during Sunday's match.
Dele will now undergo a period of rehabilitation with our medical staff, with the expectation of returning to training in early March. pic.twitter.com/BalHwgBFHZ
— Tottenham Hotspur (@SpursOfficial) January 22, 2019
Por último, vamos destacar a importância de ter uma boa técnica, tanto de corrida como de movimentos específicos do futebol, como são as travagens, acelerações ou mudanças de direção, entre outros.
Como recuperar de uma lesão de isquiotibiais: Tratamento
Como qualquer lesão muscular, o mais importante na recuperação de uma lesão de isquiotibiais no futebol é respeitar os processos biológicos de reparação dos tecidos, uma vez que não existem técnicas milagrosas para recuperar em tempo recorde.
Dito isto, gostaria de referir que respeitar esses prazos não significa estar parado, uma vez que isto nos iria atrasar e, também, vai fazer com que a nossa recuperação não seja tão boa quanto devia.
Se é verdade que tudo vai depender da gravidade da lesão, a partir das 48 a 72 horas depois de ter sofrido a lesão podemos começar a realizar atividades sem impacto, como pode ser a bicicleta para favorecer a circulação na zona lesionada.
Além disso, podemos começar com contrações isométricas, ou seja, aquelas que não produzem nem encurtamento nem alongamentos das fibras musculares (por exemplo, empurrar o calcanhar contra o chão quando estamos deitados).
A partir dos 7 dias, podemos começar a realizar contrações concêntricas (com encurtamento e alongamento das fibras), começando com pouca intensidade e aumentando-a progressivamente.
A partir desse momento, iremos introduzir aos poucos a corrida e trabalhos mais específicos do futebol, desde que a nossa musculatura vá respondendo bem, já que o mais importante não é continuar com os prazos standard, mas sim que os nossos tecidos estejam preparados para progredir.
Quanto tempo vou ficar de baixa?
Cada jogador é um mundo e cada lesão também, pelo que uma mesma lesão pode ter tempos de recuperação diferentes, não apenas entre dois jogadores diferentes, mas também no mesmo jogador se sofrê-la em várias ocasiões.
🚑 PARTE MÉDICO | Sergio Canales inicia un tratamiento conservador y no será necesaria una intervención quirúrgica de su lesión 💪😀
¡Un día menos! 🧙♂️⚽
➡ https://t.co/LziFQeePoU pic.twitter.com/mz3praX4i2
— Real Betis Balompié 🌴💚 (@RealBetis) November 23, 2020
Dito isto, a literatura científica diz-nos em que prazos se estão a movimentar os jogadores de futebol profissionais segundo o grau de gravidade da lesão:
- Grau 0 (alongamento de fibras sem rotura): cerca de 8 dias.
- 1 (rotura de poucas fibras): entre 15 e 25 dias aproximadamente.
- 2 (rotura de uma quantidade considerável de fibras): entre 20 e 30 dias aproximadamente.
- Grau 3 (rotura completa): entre 2 e 4 meses.
No entanto, devemos ter em conta que, apesar de que o nosso tecido estar recuperado e a lesão ter cicatrizado bem, isto não significa que estejamos preparados para voltar a competir. Quer dizer sim que vamos precisar de uma readaptação físico-desportiva que nos devolva a um estado de forma igual ou melhor do que aquele que tínhamos antes da lesão. O objetivo é reduzir o risco de recaída.
Bibliografia e fontes:
- Jones, A., Jones, G., Greig, N., Bower, P., Brown, J., Hind, K., & Francis, P. (2019). Epidemiology of injury in English Professional Football players: A cohort study. Physical therapy in sport, 35, 18-22.
- Buckthorpe, M., Gimpel, M., Wright, S., Sturdy, T., & Stride, M. (2018). Hamstring muscle injuries in elite football: translating research into practice.
- Chang, J. S., Kayani, B., Plastow, R., Singh, S., Magan, A., & Haddad, F. S. (2020). Management of hamstring injuries: current concepts review. The Bone & Joint Journal, 102(10), 1281-1288.
- Mendiguchia, J., Alentorn-Geli, E., & Brughelli, M. (2012). Hamstring strain injuries: are we heading in the right direction?
- Lahti, J., Mendiguchia, J., Ahtiainen, J., Anula, L., Kononen, T., Kujala, M.,… & Edouard, P. (2020). Multifactorial individualised programme for hamstring muscle injury risk reduction in professional football: protocol for a prospective cohort study. BMJ Open Sport & Exercise Medicine, 6(1), e000758.
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Como ocorre - 100%
Por que razão é a lesão mais comum - 100%
Trabalho de prevenção - 100%
Tratamento - 100%
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