É uma das lesões menos conhecidas, mas engloba um músculo essencial no mundo do futebol: o quadríceps. Conhece o que é a lesão de quadríceps no futebol, como prevenir, tratar e que rotina de trabalho realizar no ginásio e no campo para preparar a zona e render ao máximo.
Índice
Quadríceps e futebol
O quadríceps é o principal músculo da face anterior da coxa. Este músculo bi-articular (confere movimento a duas articulações) é composto, principalmente, por quatro elementos musculares (daí o seu nome), a saber:
- Reto Anterior ou Reto Femoral.
- Vasto Lateral ou Vasto Externo.
- Medial ou Vasto Interno.
- Vasto Intermédio.
O quadríceps tem, principalmente, duas funções:
- Extensão do joelho: a inserção distal é comum aos quatro elementos musculares, que se inserem na rótula formando o tendão do quadríceps, que se vai inserir por sua vez na tíbia. Portanto, ao contrair as suas fibras, o quadríceps traciona a tíbia até estender o joelho, colocando a perna reta.
- Flexão das ancas: nesta função vai intervir unicamente o reto anterior, já que é o único dos elementos musculares do quadríceps que se origina por cima da articulação das ancas.
O quadríceps é o protagonista do chuto?
Se analisamos a técnica do chuto no futebol e a comparamos com as funções que comentámos anteriormente, vamos rapidamente perceber que o quadríceps é o principal ator na execução do golpe, se bem que não é nem muito menor o único implicado.
Como comentámos, o quadríceps é um músculo bi-articular que confere movimento tanto às ancas como aos joelhos.
Se observarmos atentamente a técnica do chuto, vemos que estas duas ações se produzem em uníssono, já que fletimos a anca ao mesmo tempo que estendemos o joelho, para conferir velocidade à bola no golpe.
Quadríceps, relação com os sprints
Como já falámos no artigo sobre a lesão de isquiotibiais, durante o sprint desencadeia-se a flexão e a extensão, tanto do joelho como da anca (além da do tornozelo), com o que, como o bíceps femoral trabalha na primeira fase do apoio, o quadríceps vai trabalhar ao realizar a propulsão contra o solo, mesmo antes do remate.
As publicações existentes já comentaram em várias ocasiões a relação que existe entre a força do quadríceps e a velocidade alcançada por um futebolista no sprint. A base desta relação centra-se em que, a maior capacidade para aplicar força contra o solo, maior força propulsiva obteremos no sentido contrário, que será a que impulsiona o nosso corpo à maior velocidade durante a corrida.
Por que razão o futebolista se lesiona do quadríceps?
Como já comentámos noutras ocasiões, a origem de qualquer lesão sem contacto deve-se à interação de muitos fatores, e não a razões isoladas.
Portanto, devemos recordar que o controlo de todos e cada um de esses fatores, como podem ser, entre outros, um correto controlo de cargas, um bom descanso, um bom trabalho de força uma nutrição adequada; será indispensável para evitar uma lesão muscular.
As lesões neste músculo vêm de, principalmente, golpear a bola, onde se produz uma aceleração do pé propiciada pelas articulações mais próximas de forma encadeada, começando por uma flexão da anca para seguir com uma extensão de joelho e, finalmente, do tornozelo para chutar a bola com a máxima potência possível.
Como em qualquer lesão muscular, podemos distinguir vários graus segundo a gravidade da lesão:
- Grau 0: comummente conhecida como contratura ou distensão, trata-se de um alongamento de fibras sem rotura. É principalmente provocada por um excesso de utilização leve do músculo por um excesso de acelerações, e manifesta-se como um excesso de carga com determinados incómodos.
- Grau 1: Produz-se uma rotura de poucas fibras, e pode dar-se tanto por uma aceleração mais agressiva como por um excesso de golpes nos quais, finalmente, algumas fibras não suportam a tensão gerada pelo golpe.
- Grau 2: Neste tipo de lesão produz-se uma rotura de uma quantidade considerável de fibras. Coloquialmente, é conhecida como rasgão muscular e é resultado, sobretudo, do excesso de utilização do golpe. A diferença entre sofrer uma lesão de grau 1 ou de grau 2 por golpe será dada pela tensão gerada no pontapé que desencadeia a rotura e o número de fibras que já suportavam cargas excessivas.
- Grau 3 ou rotura do ventre muscular completa: Esta lesão é pouco comum, e a sua recuperação é lenta e complicada.
Como evitar uma lesão de quadríceps no futebol?
Como todas as lesões musculares, a origem desta lesão será a soma de muitos fatores, como já comentámos antes.
Neste artigo centrar-nos-emos num correto controlo de cargas como principal fator para evitar a lesão do quadríceps em qualquer dos seus elementos musculares, mas principalmente, no reto anterior.
Quando ouvimos falar do controlo de cargas pensamos sempre em quantos quilómetros percorremos ou quantos sprints realizámos.
No entanto, o controlo de cargas passará também por controlar outro grande número de parâmetros e ações nas quais o quadríceps recebe carga, como são os saltos, as mudanças de direção e os golpes na bola.
Como recuperar de uma lesão de quadríceps?
Em função do mecanismo da lesão e da gravidade da lesão, o jogador lesionado vai passar mais ou menos tempo à margem do grupo recuperando da lesão.
No entanto, as etapas, apesar de variar no que diz respeito à duração, são praticamente as mesmas.
Nos primeiros dias depois da lesão, devemos centrar-nos em realizar uma mobilização calma sem impacto, como pode ser o trabalho aeróbico em bicicleta estática, mobilidade articular e trabalho de CORE e estabilidade lombo-pélvica.
Uma vez superada esta fase, vamos começar com exercícios concêntricos como o agachamento assistido e o leg extension, e vamos começar a realizar também trabalho em escadas.
Na última fase antes de começar a correr, devemos ser capazes de realizar exercícios excêntricos tanto de forma bipedal como unipedal, onde iremos aumentando a especificidade, começando com exercícios como agachamentos com extensor de músculos (ou cinto russo) até exercícios com mudança de direção resistidos e trabalhos de pliometria (como o drop jump e as suas variantes).
Uma vez que sejamos capazes de realizar estas tarefas, estaremos preparados para calçar as chuteiras e começar a correr e a realizar trabalho específico com bola de forma progressiva. Temos de começar com trabalho a ritmo muito suave e com muita recuperação, que irão diminuindo para aumentar a exigência à medida que as sessões vão passado, até que o nosso preparador físico/readaptador considere que estamos preparados para voltar ao grupo.
Rotina de treino de quadríceps no futebol
- Agachamento TRX: 3×15 rep. Começar com 2 pernas e progredir até o fazer de forma unipedal.
- Salto para a caixa: 3×7 progredir aumentando a altura da caixa.
- Aceleração resistida: 3×5 com uma banda elástica atada a uma superfície fixa, acelerar até ao máximo que permita a banda e resistir ao puxão.
- Agachamento cinto russo: 3×7, progredir realizando o trabalho com peso externo.
- Drop Jump + salto + saída 3×4 (altura segundo nível).
- Técnica de corrida e coordenação.
Fontes consultadas para a redação do post:
- Torres, G., García, C., Rueda, J., Navandar, A., & Navarro, E. (2014). Activación muscular de cuádriceps e isquiotibiales en distintos ejercicios de fuerza. In En: F. del Villar, F. Claver y P. Fuentes (Eds), Libro de Actas del VIII Congreso Internacional de la Asociación Española de Ciencias del Deporte, Cáceres, AECD.
- Eckard, T. G., Kerr, Z. Y., Padua, D. A., Djoko, A., & Dompier, T. P. (2017). Epidemiology of quadriceps strains in National Collegiate Athletic Association athletes, 2009–2010 through 2014–2015. Journal of athletic training, 52(5), 474-481.
- Mendiguchia, J., Alentorn-Geli, E., Idoate, F., & Myer, G. D. (2013). Rectus femoris muscle injuries in football: a clinically relevant review of mechanisms of injury, risk factors and preventive strategies. British journal of sports medicine, 47(6), 359-366.
- Brukner, P., & Connell, D. (2016). Serious thigh muscle strains: beware the intramuscular tendon which plays an important role in difficult hamstring and quadriceps muscle strains. British journal of sports medicine, 50(4), 205-208.
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