As dois comorbidades mais frequentes em pacientes infectados por coronavírus são a diabetes e a hipertensão.
Sabemos que existem grupos de população mais susceptíveis a infetar pelo famoso SARS-CoV-2, e também sabemos que aqueles com comorbidades (doenças) como as previamente descritas, tem o maior risco de morrer a causa do mesmo.
- Más onde esta o nexo entre metabolismo e o pior resultado da infeção?
- Que mecanismos concretos falham ou facilitam o avance do vírus nestas pessoas com doenças de corte metabólico?
Índice
Metabolismo e Infeções Virais
Como bem sabeis o SARS-COV-2 não é o primeiro vírus que nos causa problemas.
Faz poucos anos tivemos a epidemia de SARS e de MERS-CoV em meio oriente. Pois bem, em estes dois quadros, a diabetes e a hipertensão também eram as comorbidades mais frequentemente encontradas.
Deve existir por tanto algum/alguns nexos concretos entre um metabolismo danificado e a infeção viral.
Estais pensando que isto não é nada novo: a doença metabólica complica o desenvolvimento de qualquer doença, debilitando o organismo de forma generalizada.
Vamos a explicar.
Tormenta de Citoquinas
Certeza que já escutastes o término “tormenta de citoquinas” estes últimos dias.
As citoquinas são moléculas mensageiras e por si só não são nem boas nem ruins.
No caso da infecção por SARS-COV-2, no entanto, parece que a resposta imunológica que o nosso organismo oferece ante o avance do vírus, em pacientes susceptíveis, gera um aumento brutal de citoquinas pró-inflamatórias na segunda fase da doença (existe uma primeira fase com carga viral elevada e outra segunda fase mais “imunológica” onde a carga viral já diminuiu).
O que acontece?
Que esta “tormenta perfeita” de citoquinas pro-inflamatórias é avivada quando existe um contexto basal de metabolismo danificado e inflamação sistémica de baixo grau.
Se o campo já estava ardendo, quando cheguem os lança-chamas arderá ainda mais com força.
A Porta de Entrada
O famoso vírus entra as células do nosso aparelho respiratório utilizando uma chave e uma fechadura.
A chave é uma glicoproteína espigada que tem na sua envoltura e na fechadura onde se une esta proteína que é a enzima convertedora de angiotensina 2 ou ACE2, localizada na superfíce das células humanas (neste caso das células do aparelho respiratório).
Pelo que a primeira hipótese para o resultado desfavorável destes pacientes é que tem mais fechaduras nas células as que se podem unir a chave do vírus.
Más a coisa vai mais além
Neste caso é a conversação da Angiotensina II em Angiotensina 1-7, regulando o chamado sistema renina-angiotensina-aldosterona.
Se esta Angiotensina II não é convertida pela ACE2 é porque esta última está inutilizada pelos vírus, a AGTII aumenta a sua concentração e, por tanto, as suas funções;
Que se resume em:
- Efeito profinflamatório
- Mais secreção de aldosterona,
Isto leva a hipopotasemia, que ao mesmo tem leva a maior permeabilidade vascular aumentando o risco de SDRS ou síndrome de distress respiratório (uma das causas principais da morte neste pacientes).
Pelo contrario, a angiotensina 1-7 (que ficará diminuída) tem um efeito anti-inflamatório e anti-fibrótico ao activar a chamada cascada do receptor.
Outros Nexos Metabólicos
Quando o vírus SARS-CoV (atenção, causante da SARS, não do COVID-19) se une ao seu receptor ACE2 nas células do pâncreas que se produzem um dano direto nas ilhotas pancreáticos e uma diminuição da secreção da insulina.
É mais, pacientes que se infectaram de SARS e que não tem antecedentes de diabetes ou tratamento com corticoides (que também pode ocasionar diabetes ou hiperglucemias) foram comparados com os seus irmãos saudáveis durante três anos posteriormente a infeção neste estudo.
Durante a sua hospitalização, mais de 50 % dos pacientes desenvolvem diabetes e só um 5% dos mesmos permaneceram sendo diabéticos aos três anos do seguimento (Yang et al., 2010).
Além disso, e como deixamos ver antes, a própria DMT2, quanto esta presente num primeiro momento, aumenta a expressão da ACE2 em outros tecidos como os pulmões, fígado e coração, o que pode explicar mais risco de infecção e de falho multiorgánico em estes pacientes.
Também explica o por que está sendo tão escéptico ante o uso de inibidores da enzima convertedora de angiotensina (que converte angiotensina I em II), devido que aumenta a expressão de ACE2 nas células humanas.
Mensagens para Levar para a Casa
Nada na biologia humana escapa ao metabolismo. O metabolismo é ubíquo.
Um metabolismo danificado na base diminui a reserva fisiológica vital e aumenta o risco de padecer múltiplas doenças.
Além disso,no caso da infeção pelo SARS-CoV-2, existem mecanismo específicos pelos que o dano metabólico aumenta o avance do vírus:
- Aumento da expressão generalizada de ACE2 em tecidos
- Aumento das ações da angiotensina II no pulmão, favorecendo o chamado SDRS (síndrome de distress respiratório severo)
- É possível que o SRA-CoV-2 cause danos directos muito plausíveis às células beta pancreáticas
- Se também acompanhamos os danos metabólicos da Obesidade, multiplicam-se os mecanismos pelos quais a infecção pode ser complicada (pior mecânica ventilatória, aumento da inflamação sistémica, etc.).
Se gostas este post, podemos fazer outro sobre Obesidade e SARS-Cov-2.
Um forte abraço!
Fontes Bibliográficas
- Bornstein, S. R., Dalan, R., Hopkins, D., Mingrone, G., & Boehm, B. O. (2020). Endocrine and metabolic link to coronavirus infection. Nature Reviews Endocrinology, 1–2.
- Yang, J. K., Lin, S. S., Ji, X. J., & Guo, L. M. (2010). Binding of SARS coronavirus to its receptor damages islets and causes acute diabetes. Acta Diabetologica.
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Doença metabólica - 98%
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Conclusões - 100%
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