A maioria dos médicos e nutricionistas estão totalmente convencidos de que o cérebro se alimenta de glicose exclusivamente, e isto não é verdade, uma vez que também se alimenta de cetonas e de lactato.
Índice
A glicose: o combustível do cérebro
O teu cérebro é um dos órgãos mais importantes que tens uma vez que é o responsável pela maioria das funções importantes tais como processar informação sensorial, aprender coisas novas, movimentar ou ter sentimentos.
É onde reside toda a nossa aprendizagem, as nossas recordações e é ele que nos faz sermos nós próprios, capazes do melhor e do pior…
Obtenção de glicose
Os hidratos de carbono dos alimentos que ingerimos são transformados em glicose, que é a energia que pode ser utilizada de imediato pelos órgãos, permitindo realizar treinos intensos e serve de combustível para o cérebro.
Outras denominações para a glicose incluem a dextrose, o amido ou o glicogénio.
O glicogénio é a principal forma de armazenamento da glicose no nosso corpo, e é armazenado no fígado e nos músculos.
Sempre que precisamos de energia, o fígado liberta-o transformando-o em glicose para poder ser utilizado por todas as células do nosso organismo.
O que é que acontece quando não podemos comer hidratos?
Os hidratos de carbono não são assim tão maus, efetivamente, o cérebro prefere o açúcar como combustível principal, e consome cerca de 120 gramas por dia (1) de glicose.
Esta alimentação repleta de hidratos de carbono assegura a sua porção de glicose perfeitamente, mas o que é que acontece se não tivermos acesso à comida durante um período de tempo indeterminado?
As cetonas: o alimento alternativo
Quando fazemos um jejum indeterminado, por:
- Decisão própria; o
- Não termos acesso a comida; o
- Nos alimentarmos com uma dieta muito baixa em hidratos (dieta cetogénica).
Quando isto acontece, o fígado produz cetonas a partir dos ácidos gordos que ingeres ou da gordura armazenada no teu tecido adiposo, que é aquilo que conhecemos como cetogénese (entrar em cetose).
Existem órgãos (2) que utilizam estas cetonas como combustível alternativo: o cérebro e o coração ou o musculosquelético).
Tipos de cetonas
Existem 3 tipos:
- Acetoacetato: é o primeiro corpo cetónico produzido pelo fígado, que depois é reduzido a beta-hidroxibutirato (otro tipo). O curioso é que, segundo consta (3), imediatamente após o nascimento preferimos acetoacetato e beta-hidroxibutirato (em vez de glicose) para o crescimento do cérebro.
- Beta-hidroxibutirato: é formado a partir do acetoacetato, constitui 78 % dos corpos cetónicos gerados, e é um titular muito eficiente de energia, inclusive mais do que a glicose (4).
- Acetona: é o menos abundante (2 % das cetonas na corrente sanguínea) e é o resultado da decomposição do acetoacetato.
Fonte de energia do cérebro
Apesar de reconhecermos a glicose como a principal fonte de energia do cérebro, este também pode utilizar perfeitamente cetonas, principalmente o beta-hidroxibutirato e acetoacetato.
O que acontece quando as reservas de glicogénio são muito baixas, ou se encontram vazias, então o corpo metaboliza a gordura armazenada para a transformar em ácidos gordos, que podem ser decompostos em cetonas que têm a capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica.
Mito
Um dos motivos pelos quais existe o mito de que o cérebro só consegue funcionar com glicose é que existem células no nosso corpo que não têm mitocôndrias (centrais de energia das células), como o são os glóbulos vermelhos e algumas células do cérebro de pequenas dimensões (são muito pequenas e não têm espaço para o mitocôndrias).
Estas células necessitam de glicose e não conseguem metabolizar a gordura.
Enquanto as restantes células sem mitocôndrias se alimentam da glicose que o próprio corpo consegue criar, sem precisar de ingerir hidratos de carbono, através da gliconiogénese (ou então a partir das proteínas ou do glicerol libertado da metabolização dos ácidos gordos).
Glicose vs Cetonas
Vamos analisar os benefícios e inconvenientes de ambos relacionados com o cérebro:
Benefícios da glicose
Melhora a capacidade de atenção das crianças
Diz um estudo (5) de 1987, que observou 60 crianças entre seis e sete anos de idade, dando-lhes uma bebida que continha 25 gramas de glicose ou um placebo.
Os resultados mostraram que aqueles que tomaram a bebida cheia de glicose conseguiram manter a sua atenção durante mais tempo.
Ajuda a realizar tarefas mentais desafiantes
O cérebro gasta cerca de 11kcal/h para funcionar, mas a sua tarefa é complexa aumenta a sua necessidade energética, por isso os cientistas acreditam (6) que comer alimentos com açúcar deve melhorar o desempenho destas tarefas.
Benefícios das cetonas
Melhora o desempenho cognitivo
Esta constituiu parte das conclusões de uma meta análise (7) onde se verificou durante um teste de labirinto que o cérebro utiliza facilmente corpos cetónicos em vez de glicose e que a dieta cetogénica aumenta a PCr do cérebro humano, como se verificou através da utilização da espetroscopia MR.
Mantêm vivos os teus neurónios
Um estudo (8) observou crias de ratos após o nascimento, a um grupo deu uma dieta normal enquanto alimentaram as outras com una dieta cetogénica.
Passados cinco dias, induziram a hipoglicémia através da injeção de insulina e concluíram que os ratos que receberam a dieta cetogénica apresentaram menos perdas de neurónios pelas hipoglicémias.
Beneficiam doentes com traumas cerebrais
O trauma cerebral é causado por um forte ferimento na cabeça que danifica o tecido do cérebro.
O cérebro lesionado precisa de energia para recuperar mas não consegue metabolizar eficazmente a glicose (9). Uma dieta cetogénica em doentes com trauma cerebral fornece (10) um combustível alternativo para o cérebro na forma de cetonas.
Melhorias em doentes com Alzheimer leve
Um estudo (11) pioneiro indica que, com algumas recomendações e apoio em casa, as pessoas com Alzheimer leve conseguem melhorar a função cerebral ao aumentar os níveis de cetonas no sangue.
Inconvenientes da glicose
O açúcar pode criar adição
Uma pesquisa (12) explorou a influência do açúcar na obesidade, chegando à conclusão de que o açúcar é uma substância aditiva, uma vez que aumenta o circuito de recompensa do seu cérebro que está relacionado com a adição.
O consumo habitual de açúcar aumenta o risco de depressão
Um estudo (13) chegou à conclusão de que o açúcar está na lista de fatores que provavelmente contribuem para a depressão, visto que excesso de açúcar, especialmente o açúcar que se encontra nos refrigerantes, sumos e bolos, diminui o BDNF (brain-derived neurotrophic factor), uma proteína que mantém e promove o crescimento dos seus neurónios.
Inconvenientes das cetonas
Potenciais efeitos secundários durante a adaptação ao keto
Nem toda a gente apresenta estes efeitos secundários temporais embora seja algo normal uma vez que à medida que o cérebro se adapta à utilização das cetonas pode sofrer: dores de cabeça, atordoamento, dificuldade de concentração, tonturas e náuseas.
Conclusões
A glicose é essencial, o que é definitivamente verdade.
Mas não precisamos de a ingerir, o nosso corpo consegue satisfazer as necessidades deste grupo de células do cérebro (menos de 30 %) e dos glóbulos vermelhos que não tenham mitocôndrias e precisam dele porque não podem usar nem cetonas nem ácidos gordos como fonte de energia.
Segundo os estudos anteriores, as cetonas são uma melhor fonte de combustível, já que o beta-hidroxibutirato atua como um combustível mais eficiente do que a glicose.
Referências Bibliográficas
- Each Organ Has a Unique Metabolic Profile – Berg JM, Tymoczko JL, Stryer L. (2002).
- Multi-dimensional roles of ketone bodies in fuel metabolism, signaling, and therapeutics – Puchalska P, Crawford PA (2017).
- Preferential Utilization of Ketone Bodies in the Brain and Lung of Newborn Rats – Y Y Yeh, P M SheehanY Y Yeh, P M Sheehan (1985).
- Clinical review: Ketones and brain injury – Hayden White and Balasubramanian Venkatesh (2011).
- Glucose improves attention and reaction to frustration in children – David Benton, Veronica Brett, Paul F.Brain (1987).
- Glycemic Instability and Spontaneous Energy Intake: Association With Knowledge-Based Work – Jean-Philippe Chaput , Vicky Drapeau, Paul Poirier, Normand Teasdale, Angelo Tremblay (2008).
- Novel ketone diet enhances physical and cognitive performance – Andrew J. Murray,*†,1,2 Nicholas S. Knight,*,1 Mark A. Cole,‡,3 Lowri E. Cochlin,* Emma Carter,* Kirill Tchabanenko,‡,4 Tica Pichulik,* Melanie K. Gulston,§¶ Helen J. Atherton,* Marie A. Schroeder,* Robert M. J. Deacon,‖ Yoshihiro Kashiwaya,# M. Todd King,# Robert Pawlosky,# J. Nicholas P. Rawlins,‖ Damian J. Tyler,* Julian L. Griffin,§¶ Jeremy Robertson,‡ Richard L. Veech,# and Kieran Clarke* (2016).
- Ketones Keep Neurons Alive– Carl E Stafstrom (2006).
- Glucose metabolism following human traumatic brain injury: methods of assessment and pathophysiological findings – Ibrahim Jalloh,corresponding author Keri L. H. Carpenter, Adel Helmy, T. Adrian Carpenter, David K. Menon, and Peter J. Hutchinson (2015).
- The Ketogenic Diet as a Treatment for Traumatic Brain Injury: A Scoping Review – Alexandre McDougall 1, Mark Bayley 2, Sarah Ep Munce (2018).
- Feasibility and efficacy data from a ketogenic diet intervention in Alzheimer’s disease – Author links open overlay panelMatthew K.TaylorabDebra K.SullivanabJonathan D.MahnkenacJeffrey M.BurnsadeRussell H.Swerdlowadef (2018).
- Sugar Addiction: From Evolution to Revolution – Wiss DA, Avena N, Rada P. (2018).
Entradas Relacionadas
- O Jejum Intermitente afeta o Cérebro… continuar a ler.
- Sabes quais são os Benefícios do Desporto para o Cérebro. Vamos contar-te em este link.
Obtenção da glicose - 100%
O que é que acontece se não ingerirmos hidratos de carbono - 100%
Mito da glicose - 100%
Glicose VS Cetonas - 100%
Conclusões - 100%
100%