Vamos analisar os pontos mais importantes sobre a Nutrição em Atletas Fitness na época de pré-competição ou também conhecida como On Season (Preparação da competição).
Índice
On-Season (Preparação da competição)
O que é
On-season (Preparação da competição) é o período de preparação que inclui o ponto desde que o atleta alcança o volume/bulking, ou o período após a competição (uma vez que não é necessário existir um volume médio) e decide começar a preparar-se para a competição.
Caraterísticas de uma Competição Fitness
Toda a preparação de um atleta fitness destina-se a refletir em cima do palco a melhor imagem estética possível com base nos padrões da categoria.
No entanto, alcançar este ponto implica um conjunto de alterações psicológicas e fisiológicas que devem ser revertidas o mais cedo possível após a competição para evitar causar problemas de saúde graves.
Os atletas fitness sobem ao palco com uma percentagem de gordura corporal entre 4,1-10,9 % de gordura corporal em homens, e 8,6-11,3 % em mulheres; segundo a categoria para a qual estiver a competir (Chappell et al., 2018).
Alcançar este estado físico causa alterações endócrino metabólicas tais como redução da testosterona total e livre, no IGF-1, na leptina, nas concentrações de dopamina, na síntese de hormonas na tiroide, aumento na produção de grelina.
Também provoca alterações na função sexual, cognitiva e físicas normais: ao diminuir a força e a energia, tanto máxima como média (Pardue et al., 2017; Mitchell et al., 2018; Fagerberg, 2018). Além de muitas outras alterações.
Figura I. Alterações endócrino metabólicas como consequência da restrição energética.
Como Começar
Antes de começar a preparar uma competição fitness deves ter uma quantidade considerável de massa muscular.
Isto é algo relativo, mais uma vez, à categoria onde competes, mas recomendo sempre que inicies um período on-season (preparação da competição) com uma maior quantidade de massa muscular do aquela que precisas para ser competitivo na tua categoria.
Se digo isto, é porque a perda média de peso corporal durante uma preparação é de 14 % em homens e mulheres (com um intervalo de variação até aos 20 %).
Perda de massa muscular on-season (preparação da competição)
Temos que ter em linha conta que, apesar de esta etapa se caraterizar pela perda da maior quantidade de gordura possível sem afetar o tecido magro, isto também é impossível, especialmente a partir de percentagens de gordura excessivamente baixos.
Contamos com estudos individuais, como o de Kistler et al. (2014), onde um culturista que perdeu 13,3 kg de peso corporal em 26 semanas, baixando de 17,5% para 7,4 % de gordura corporal, também perdeu 6,6 kg de massa magra.
Pelo que, no melhor dos casos, o mais normal é que a mudança nesta etapa seja semelhante a isto, uma vez que Jeff Nippard é um caso excecional, por conhecimento, experiência e genética:
Figura II. Jeff Nippard, culturista natural.
Mesmo que te sintas relativamente magro, tendemos a subestimar a quantidade de gordura que precisamos de perder, e depois vêm os apertos, os défices de energia agressivos e a perda drástica de massa magra.
Mesmo em condições ideais, a perda de massa magra constitui um processo que inequivocamente acontecerá em algum momento.
Caraterísticas da preparação
Atualmente as tendências das competições fitness mudaram. Passámos das 16 semanas de preparação média dos anos 80-90 para uma média atual de 32 semanas (Roberts et al., 2020).
Profissionais vs Amadores
Os profissionais tendem a fazer preparações mais longas com perdas de peso semanais mais pequenas (28,1 semanas com uma perda de 0,5 % de peso corporal/semana), ao passo que os amadores tendem a gerar défices calóricos mais agressivos em preparações mais curtas (21 semanas com uma perda de 0,7 % de peso corporal/semana).
A planificação da temporada deveria ser longa, quanto mais longa melhor, também fruto das potenciais interrupções que possam ocorrer (lesões, compromissos sociais imprevistos, doença…).
Planificações mais longas fazem com que o défice energético seja menos agressivo, predispondo para uma disponibilidade de baixa energia de menor magnitude, inclusivamente podendo utilizar determinadas estratégias sobre as quais nos debruçaremos posteriormente para controlar parte dos efeitos fisiológicos negativos da preparação.
Quanta gordura devo perder
Quanto maior for a nossa percentagem de gordura corporal e menor a nossa quantidade de massa magra relativa, maior défice poderemos tolerar sem condicionar o nosso tecido muscular.
A velha máxima de confiança é a regra da:
- Percentagem de gordura corporal / 20 = X %
- Esta X % é a percentagem de peso corporal que podes perder por semana.
Mulheres cuja compleição física denota pouca massa muscular, especialmente em categorias como bikini fitness, vimos como inclusive chegaram a ganhar massa muscular em períodos de preparação.
Neste tipo de atletas (com pouca massa muscular e pouca experiência de treino com cargas), aplicar um défice energético que leve a uma perda de 0,4 ou 0,75 % do peso corporal por semana não apresenta efeitos negativos sobre a massa muscular.
Figura III. Atleta bikini fitness.
Em atletas do sexo masculino verificam-se diferenças entre perdas semanais de 0,5 % de peso corporal e 0,7 ou até 1 %; sendo mais eficaz o primeiro.
Quanto tempo deve durar
A duração da preparação é muito individual, e depende de fatores como:
- Percentagem de gordura inicial;
- Défice energético causado;
- Imagem que se pretende apresentar em palco.
Pode ser calculado da seguinte forma:
Se já competiste alguma vez:
Deverias ter calculado a tua percentagem de gordura corporal, através da plicometria, DEXA, bodpod, ou método de medição objetivo que entendas por bem.
Se, na tua última competição, a tua soma de dobras total era de 32 mm e a imagem era boa, ou seja, te definiste até ao ponto necessário para ser competitivo, estarás preparado novamente quando a tua soma de dobras for de 32 mm.
Se nunca tiveres competido:
Calcula o teu peso corporal e a tua percentagem de gordura corporal através de métodos objetivos e estabelece uma perda de peso semanal linear (embora deva ser calculada de forma logarítmica só que excede as caraterísticas deste artigo) da seguinte forma:
- Tenho 17 % de gordura corporal inicial e peso de 92 kg.
- 17 %/ 20 = 0,85 % de peso semanal que posso perder.
- 92*0,85/ 100 = 782 gr posso perder por semana.
Tendo em conta que la perda de peso não é estável e à medida que baixa a percentagem de gordura corporal a quantidade de peso a perder vai diminuindo, definimos uma perda estável entre 350-600 gr por semana, podendo aproximar-nos mais do intervalo superior no início da preparação e devendo aproximar-nos mais do intervalo inferior no final da preparação.
- (350+600)/ 2 = 475 gr de perda de peso médio por semana.
Se dos meus 92 kg calcular que quero perder 10 % de gordura corporal antes da competição, devo perder 9,2 kg de gordura total.
Se estabelecermos que por cada 475 gr de perda de peso corporal, aproximadamente 175 gr serão de massa magra (63,2-36,8 %).
Acabaremos por perder 5,35 kg a mais do que o calculado (9,2+5,35= 14,55 kg totais), um valor próximo daquele que, em bom rigor, verificamos nos atletas.
Devemos perder 14550 gr de peso, no total a 475 gr por semana = 30,6 semanas de preparação.
Devemos somar mais 2,5 por contratempos.
Consumo de calorias
O consumo de calorias é muito variável entre atletas, e não existe uma forma de calcular o padrão de forma exata, nem absoluta nem relativamente sem uma calorimetria direta.
Pesar-nos todos os dias, somar todos os dias e dividir por 7.
Por cada 100 gr de ganho ou perda de peso corporal existe 90 kcal de excesso ou défice calórico diário, ou seja:
Se quiser perder 400 gr por semana e tiver ganho 200 gr com esta dieta, devo reduzir o meu consumo calórico em 540 kcal diárias (600/100*90).
Um bom ponto de partida é começar por 35-40 kcal/ kg de peso corporal.
Os atletas do sexo masculino começam com cerca de 37,2 kcal/kg e terminam a preparação com cerca de 36,6 kcal/kg (entre 3200 kcal/dia até 2600 kcal/dia).
Evidentemente, existe uma enorme oscilação nestas medições e existem atletas que baixam facilmente das 2000 kcal/dia, e atletas das 1200 kcal/dia.
O que realmente determinará a % de perda de peso que alcançar com uma determinada quantidade de energia.
RED-S e LEA em preparação
O que acelera os distúrbios relacionados com o metabolismo ósseo (desmineralizando o osso), do eixo hipotálamo-hipófise-gónada (alterando a produção de testosterona e estrogénios), diminuindo as concentrações de glicose na forma de inanição.
Figura IV. Alterações na menstruação segundo as pontuações em relatórios de consumo energético. Mais à esquerda menos calorias e mais casos de alterações endócrinas.
As recomendações de Fagerberg (2018) para prevenir, na medida do possível, as alterações do organismo masculino, são:
- Não baixar das 25 kcal/kgFFM/dia.
- Não baixar dos 4 kg totais de gordura corporal.
E, mesmo assim, estas adaptações negativas irão ocorrer, todavia em menor dimensão, e o impacto sobre a saúde também será menor.
É importante salientar (e não pretendo incentivar ninguém) que, se com o limite inferior de consumo energético diário não se conseguir perder o peso necessário, devemos aumentar o défice energético:
Pelo que, se continuarmos a querer competir, devemos consultar um bom endocrinologista na área do desporto e controlar o nosso estado de saúde de forma continuada até repor o consumo normal.
Mas isso iremos abordar de uma forma superficial mais à frente neste artigo.
Macronutrientes
Proteínas
A proteína é importante para ganhar e manter a massa muscular.Existem vários artigos neste blog onde abordamos este tema, e podem alargar conceitos através da leitura da meta-análise de Morton et al. (2016).
Precisamente neste artigo foram definidas as recomendações de 1,6 gr de proteína por kg por dia para melhorar a síntese proteica muscular. Este artigo apresentava um limite de confiança até 2,2 gr/kg/dia.
O que está de acordo com aqueles que foram apresentados por Schoenfeld e Aragon (2018) que definiram um melhor consumo de 0,4-0,55 gr/kg/porção * 4 porções/dia.
Proteína e saúde orgânica
Os culturistas consomem mais proteína do que aquela que vem definida nestes estudos: os homens consomem uma média de 2,9 gr/kg/dia e as mulheres de 3,2 gr/kg/dia.
Será que pode ter alguma vantagem?
Sim. Sabemos que o consumo de dietas ricas em proteína não apresenta problemas para a saúde em pessoas jovens e saudáveis (Antonio et al., 2014; 2016) e, no entanto, as dietas mais ricas em proteína apresentam algumas vantagens a nível do metabolismo (fazendo com que seja mais fácil alcançar um défice energético com as mesmas calorias) (Antonio et al., 2015).
Figura V. Alterações na percentagem de gordura entre dois grupos de dieta isocalórica e diferente conteúdo em proteínas. HP = rica em proteínas / MP = Normal em proteínas.
Recomendações sobre proteínas
Recomendação: 1,6-3,5 gr/kg/dia, maior para:
- Menor percentagem de gordura corporal.
- Maior défice calórico.
- Mais treino e stress.
*Desde que não consuma em excesso outros nutrientes.
Hidratos de carbono
Os hidratos de carbono são um nutriente muito eficiente do ponto de vista energético, e importante para manter o nosso desempenho nos treinos.
Não só devido ao sentimento de fadiga, como também porque a baixa disponibilidade deste nutriente no organismo altera a cinética do cálcio do retículo sarcoplasmático e a capacidade de exercer força por parte do tecido muscular.
Estudos como os de Lenzi et al. (2019) salientam que o consumo médio de hidratos de carbono na fase de definição se encontrava numa média de 2,3 gr/kg/dia.
Keto ou não keto, o que diz a ciência
Muitos Bros recomendam as dietas muito baixas em hidratos de carbono numa fase de definição como uma estratégia para promover a perda de peso, e embora seja verdade que isto acontece, não é significativo (Boaz y Raz, 2015) e o peso corporal não significa gordura corporal.
Duas dietas isocalóricas e isoproteicas ricas em hidratos de carbono ou gorduras terão o mesmo efeito sobre a perda de gordura a longo prazo, pelo que o melhor é estabelecer a abordagem dietética que melhor se adapta a ti enquanto atleta.
Nas mulheres, também é utilizar dietas ricas em hidratos de carbono para prevenir “recaídas alimentares”, uma vez que geram menos apetite, maior saciedade e satisfação com dietas ricas em hidratos de carbono do que ricas em gordura (Zhou et al., 2015).
Recomendações sobre os hidratos de carbono
Recomendação: 2-5gr/kg/dia.
Provenientes de frutas, legumes e cereais integrais para aumentar a saciedade e diminuir a energia líquida metabolizável.
É inevitável que chegado a um ponto da preparação não se consiga manter este consumo de hidratos de carbono.
Gorduras
Os culturistas reduzem bastante o seu consumo de lípidos, uma vez que não apresentam benefícios como as proteínas (plásticos) ou os hidratos de carbono (energéticos).
Mais uma vez existe uma grande oscilação.
Recomendações sobre gorduras
Recomendação: 10-25 %.
- Na sua maioria proveniente de fontes ricas em ácidos gordos monoinsaturados.
- Ao fornecer a quantidade necessária de ácidos gordos essenciais (w3-w6) diariamente.
- Consumo de colesterol dietético.
Colesterol e massa muscular
Relativamente a este último não temos claro por que acontece, embora se tenha verificado uma correlação entre a quantidade de colesterol consumido através da dieta e os ganhos de massa muscular e força (Riechman et al., 2007).
Figura VI. Quartis de consumo de colesterol e a relação com kg de massa magra.
Sabemos que o colesterol dietético se encontra esterificado e não está associado ao aumento nas concentrações séricas de colesterol (exceto as mutações do gene ABCG5 e NPC1L1), da mesma forma que a sua restrição também não se encontra associada a reduções das concentrações de colesterol plasmático.
Pouca gordura e pouca testosterona será que constitui uma relação causal?
As associações entre dietas baixas em gorduras e diminuições da síntese de testosterona são deduções erradas por pensar que menos gordura significa menos colesterol, e isto a menos síntese de testosterona.
Figura VII. Percurso da síntese de hormonas sexuais a partir do colesterol.
A diminuição nas concentrações de testosterona que se verifica em estudos individuais de atletas, é determinada pelo défice energético total (calorias) e não de gordura, uma vez que existem casos onde, com restrições energéticas, com a mesma quantidade de gordura, também ocorrem regulações negativas.
Timing
Os atletas comem em média 6 vezes ao dia (Chappell et al., 2018). O que se deve à ideia de que:
- Aumenta a síntese proteica.
- Aumenta a taxa metabólica basal.
- Existem momentos de consumo que são superiores a outros (janela anabólica).
Vamos analisar:
Timing da proteína
Um dos modelos abordados atualmente que levou a uma confusão incrível é o “full muscle effect” (efeito músculo completo). Isto foi o que levou a ter esta ideia errada de que “mais de 30 gr por refeição não são absorvidos”, o que é uma verdadeira estupidez.
Isto vem do período refratário do consumo de proteína (que foi abordado por Norton no seu primeiro estudo publicado por volta de 2010), e que o representaram muito bem Areta et al. (2013).
Figura VIII. Alterações na relação entre a síntese proteica parcial durante 12 horas segundo o regime de administração de proteína.
O motivo pelo qual é superior um consumo moderado em quantidade e frequência de proteína é porque precisamos de alcançar um conteúdo mínimo de leucina (trigger) sem o qual não alcançaremos o potencial máximo de síntese proteica (e novamente, durante o período refratário).
Figura IX. Representação gráfica da hipótese do limite de leucina como fator de desencadeamento da síntese proteica.
E a síntese proteica durante um período de tempo de 12 horas é maior com consumos repartidos, ao utilizar consumos de proteína de fontes com rápida digestibilidade (como é o caso da whey); na vida real isto não é assim tão linear, uma vez que geralmente consumimos carne, ovo, peixe…
Que apresentam uma taxa de libertação de aminoácidos para a corrente sanguínea mais lenta que a whey.
Proteína per treino
O pós-treino é a janela anabólica dos culturistas, um momento sensível, uma vez que sabemos que o treino com cargas estimula o turnover proteico e podemos aproveitá-lo para aumentar os efeitos da proteína sobre a MPS.
A quantidade ideal de proteína a ingerir no pós-treino é de 0,32 g/kg de peso corporal, desde que não treinemos em jejum (que não é muito recomendável neste caso), não sejamos velhos ou soframos de alguma doença grave, e a fonte alimentar tenha elevados índices de qualidade nutricional (Moore, 2019).
Figura X. Representação gráfica da análise do consumo de proteínas (g/kg) e a % de alteração da relação da síntese proteica fracionada mio.
Sabemos que não existem diferenças entre o consumo de proteínas antes ou depois do treino, pelo que a podes consumir quando te for mais oportuno, não existem vantagens entre um momento ou outro (Schoenfeld et al., 2017).
Figura XI. Alterações na espessura do bíceps pré- (T1) e pós- (T3) intervenção no grupo que consumiu proteína antes de treinar (PRE) e depois de treinar (POST).
Proteína ao-deitar
Trommelen foi o autor que centrou os seus esforços em demonstrar que a prática do culturismo dos 80 e de utilizar uma fonte de proteína de digestão lenta ao deitar, era positivo para aumentar o anabolismo durante a noite.
Figura XII. Teoria da janela de oportunidade noturna e oscilação do turnover proteico durante o dia. “A” é sem fornecimento de proteína ao deitar / “B” é com fornecimento de proteína ao deitar.
O autor referiu que a toma de proteína ao deitar é uma forma de aproveitar a “oportunidade de nutrição proteica” devido ao facto de passarmos tantas horas sem dormir e, utilizar uma fonte de digestão lenta permite não ter de acordar a meio da noite para comer como faziam os culturistas mais radicais.
Para isso utiliza caseína, e demonstrou que para aumentar a síntese proteica 40 gr são suficientes, mas 30 gr não o são (Trommelen et al., 2017ª; Trommelen et al., 2017b). O que se deve ao trigger de leucina que tínhamos referido anteriormente.
Uma das tomas de proteína pode ser durante o treino e outra ao deitar se utilizar uma fonte de digestão lenta.
Mesmo assim, num período de tempo dilatado, parece que se normalizarmos o conteúdo e a frequência de proteína diária, consumi-la durante o treino, ao deitar, ou num outro momento do dia não apresenta efeitos práticos sobre a hipertrofia.
Hidratos de carbono per treino
A divisão do resto dos nutrientes durante o dia é irrelevante, tanto em frequência como em quantidade, salvo quando fazemos referência aos hidratos de carbono durante o treino.
Em desportos onde as concentrações de glicogénio são seriamente afetadas (como ciclismo ou triatlo), a depleção de glicogénio através do consumo de fontes de hidratos de carbono de elevado índice glicémico antes, durante e/ou depois do treino é fundamental para não condicionar o desempenho na atividade desportiva em sessões futuras.
Na realidade, o treino com carga consome aos poucos os nossos depósitos de glicogénio muscular, à volta de 30 % pelo que, através da gliconeogénese pela proteína, recupera facilmente.
Além disso, um atleta treina cada grupo muscular entre 1 e 2 vezes por semana, 3 vezes em casos extraordinários, pelo que a vantagem da absorção celular de glicose por mecanismos independentes à insulina que induz o treino (Murray y Rosenblom, 2018) não é algo que possamos aproveitar.
Quando SIM é interessante utilizar hidratos de carbono per treino:
- Quando treinamos em jejum.
- Quando consumimos menos de 1 gr de hidratos de carbono/kg/dia.
- Quando treinamos um grupo muscular F3+/semana ou realizamos treinos fullbody (para o corpo todo).
- Quando treinamos sessões diárias duplas.
- Quando realizamos muito exercício aeróbico de alta intensidade (HIIT ou MISS).
Distribuição de refeições
Embora um maior número de consumos de alimentos tenha sido associado desde sempre, por culturistas, a melhorias na composição corporal por aumentos no gasto energético em repouso, a verdade é que não se pode estar mais longe da realidade.
Figura XIII. Alterações na percentagem de gordura corporal segundo o número de refeições realizado.
Existem ensaios que mostram que consumos mais reduzidos e mais divididos aumentam o desejo e a ansiedade pela refeição, levando a mais saltos de dieta não planificados (Perrigue et al., 2016).
Mesmo assim, nas meta-análises como a de Schoenfeld, não se verificaram alterações consistentes que associem a maior frequência alimentar e o peso corporal.
A realidade é que deves comer as vezes que quiseres/melhor se adaptem a ti.
Em qualquer caso deverias fazer 4 refeições por dia, talvez 5 se a tua dieta é rica em proteínas e ficas muitas horas acordado, de modo a que possas respeitar o período refratário, embora não exista qualquer problema em realizar 3 refeições à base de batidos de proteína e uma refeição principal com todas as tuas necessidades nutricionais de outros nutrientes.
Pode não ser o melhor desde ponto de vista do desempenho desportivo, mas não terá efeitos sobre a tua composição corporal, e assim adaptas-te melhor à dieta…
Periodização da Dieta
Muitos autores investigaram uma prática muito frequente entre os atletas. São as pausas da dieta.
Em primeiro lugar devemos ter em conta que tanto as dietas lineares (todos os dias 100 kcal de défice) como as não lineares (2 dias de normocalórica e 5 dias de défice total de 700 kcal por semana) são igualmente eficazes em relação às alterações da composição corporal (Cioffi et al., 2018).
Refeed para corrigir o impacto da preparação
Estratégias como os refeeds, que são períodos de 12-72 h de realimentação, onde aumentamos radicalmente o consumo de hidratos de carbono da dieta, reivindicam ser capazes de compensar as atenuações da termogénese adaptativa por défice calórico, regular a leptina, repor a síntese normal de testosterona…
Não é necessário dar muitas explicações. Temos estudos individuais que mostram que após uma preparação de competição natural fitness, um praticante de desporto pode demorar até 6 meses a recuperar (Rossow et al., 2013).
Figura XIV. Alterações nos parâmetros endócrino-metabólicos desde o início da preparação até 6 meses pós-competição.
De facto, eu já tinha pensado há uns anos a esta parte, que alguns reguladores (como a leptina) não se recuperam, nem passados 6 meses de realimentação ad libitum, e que talvez por isso a cada definição se sofra mais ansiedade e somos mais resistentes à perda de gordura.
Uma vez e chega?
É ridículo pensar que um refeed pode atenuar este facto uma vez que, além do consumo energético, está condicionado pela perda de gordura, já que la leptina é uma adipohormona, ou seja, é o tecido gordo quem a produz e, se este se reduz, as suas concentrações também o farão, independentemente dos refeeds que forem feitos.
Diet Breaks (pausas na dieta) para corrigir o impacto da preparação
Outras abordagens que podem ter mais sentido são as diet-breaks, que consistem em realizar períodos longos de normocalórica com consumos suficientes de hidratos de carbono.
Esta abordagem é eficaz, e pode também apresentar benefícios (promovidos pelo sistema dopaminérgico é a motivação) na hora de perder gordura como referem Byrne et al. (2018).
O problema é que, para que a perda de peso seja igual, das duas, uma: ou é efetuado o dobro do défice nas fases de restrição energética, ou então se duplica o tempo de preparação, e isso contanto que não se descontrole a estimativa das nossas previsões de calorias de manutenção…
Não parece muito inteligente para a maioria dos atletas…
Isto não é uma verdade absoluta, uma vez que autores como Layne Norton defendem até à saciedade que os refeeds servem para atenuar o impacto endócrino-metabólico da restrição energética em praticantes de desporto com percentagens de massa gorda.
Cheat meals para corrigir o impacto da preparação
Outra estratégia muito utilizada são as cheat meals, que evidentemente não apresentam benefícios fisiológicos e podem deitar por terra toda uma semana de défice calórico.
Figura XV. Representação gráfica do excesso calórico por um cheat day (dia da asneira).
Abordagem moderada = Sucesso
Qual é a estratégia mais inteligente? Aquela que melhor se adapte a ti.
Pessoalmente, utilizo com os meus atletas uma abordagem flexível de IIFYM com um conjunto de orientações definidas, permitindo que sejam capazes de definir o consumo diário ou quase diário de alimentos cheios de sabor (gelados, piza ou semelhantes) em pequenas quantidades.
Ao fim e ao cabo, como a origem dos nutrientes é irrelevante, tal como a energética e a proteica, basta passar algum tempo a calcular os consumos e não nos limitarmos a fazer um “dia de dieta x7”, uma vez que assim ninguém aguenta uma preparação.
Figura XVI. Caraterísticas e efeitos das 3 estratégias de pausa na dieta mais comuns em atletas fitness.
Pessoalmente, utilizo as cheat meals (refeições de lixo) com os meus desportistas quando têm um compromisso social. Educo-os para que não existam refeições “boas” e “más” ou refeições “limpas” e “sujas” e que, se quiserem comer X alimento, que simplesmente o tenham em conta para ser adaptado às orientações nutricionais definidas por mim.
E assim, todos (aqueles que me dão ouvidos) realizam progressos até pontos abaixo de 8 % de gordura corporal, e aqui já entra em jogo a sua resiliência perante a hipofagia mantida no tempo.
Suplementos
Existe uma grande quantidade de suplementos que podem ser utilizados de forma direta para a hipertrofia muscular, para aumentar o desempenho na performance desportiva, e de forma indireta para controlar determinados parâmetros de saúde que possam estar alterados por deficiências nutricionais que resultam em melhorias no desempenho e na composição corporal.
Aqueles com uma relação mais direta sobre a manutenção da massa muscular são os seguintes:
Suplemento | Como tomar |
Creatina Monohidrato | 0,3 gr/kg durante 7 dias + 0,07 gr/kg por tempo indefinido, ou ou 0,1 gr/kg por tempo indefinido |
HMB | Entre 3 e 6 gr em períodos de grande restrição energética |
Beta Alanina | Entre 4 e 6 gr durante pelo menos 28 dias. |
Cafeína | Entre 3 e 6 mg/kg uma hora antes de treinar. |
Citrulina Malato | 8 gramas pré-treino. Melhor em combinação com 3 gr de L-arginina HCl |
Nitratos | 500 mg pré-treino (2-3 h) |
Fontes Bibliográficas
- Antonio, J., Ellerbroek, A., Silver, T., Vargas, L., Tamayo, A., Buehn, R., & Peacock, C. A. (2016). A High Protein Diet Has No Harmful Effects: A One-Year Crossover Study in Resistance-Trained Males. Journal of Nutrition and Metabolism, 2016, 9104792.
- Boaz, M., & Raz, O. (2015). Low Fat vs. Low Carbohydrate Diet Strategies for Weight Reduction: A Meta-Analysis. Journal of Obesity & Weight Loss Therapy, 05(05).
- Chappell, A. J., Simper, T., & Barker, M. E. (2018). Nutritional strategies of high level natural bodybuilders during competition preparation. Journal of the International Society of Sports Nutrition, 15(1), 4.
- Chappell, A. J., Simper, T., & Helms, E. (2019). Nutritional strategies of British professional and amateur natural bodybuilders during competition preparation. Journal of the International Society of Sports Nutrition, 16(1), 35.
- Fagerberg, P. (2018). Negative consequences of low energy availability in natural male bodybuilding: A review. International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism, 28(4), 385–402.
- Lenzi, J. L., Teixeira, E. L., de Jesus, G., Schoenfeld, B. J., & de Salles Painelli, V. (2019). Dietary Strategies of Modern Bodybuilders During Different Phases of the Competitive Cycle. Journal of Strength and Conditioning Research, 1.
- Mitchell, L., Slater, G., Hackett, D., Johnson, N., & O’connor, H. (2018). Physiological implications of preparing for a natural male bodybuilding competition. European Journal of Sport Science, 18(5), 619–629.
- Roberts, B. M., Helms, E. R., Trexler, E. T., & Fitschen, P. J. (2020). Nutritional Recommendations for Physique Athletes. Journal of Human Kinetics, 71(1), 79–108.
- Rossow, L. M., Fukuda, D. H., Fahs, C. A., Loenneke, J. P., & Stout, J. R. (2013). Natural bodybuilding competition preparation and recovery: A 12-month case study. International Journal of Sports Physiology and Performance, 8(5), 582–592.
Entradas Relacionadas
- Nutrição para Atletas Fitness: Off-Season (Preparação para a competição) neste link
- Nutrição para Atletas Fitness: Afinação neste link
- Nutrição para Atletas Fitness: Post-Competição neste link
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