O futebol é um desporto complexo no qual o rendimento de um jogador é o compêndio de um grande número de variáveis de naturezas muito diferentes, como podem ser aquelas de tipo físico: velocidade ou força; ou de tipo decisório: posicionamentos, passes acertados ou bolas roubadas; entre outras. E o volume muscular, como afeta o rendimento no futebol?
O rendimento final do jogador não vai depender, portanto, de se percorreu mais ou menos quilómetros, ou de se realizou um maior número de sprints a diferentes velocidades.
Máxima preparação e condições para chegar ao êxito no futebol. De que necessitas?
Na atualidade, existe um grande debate sobre o volume muscular nos jogadores de futebol onde se podem ler opiniões muito díspares ao respeito.
Há quem opine que uma maior massa muscular irá reduzir a mobilidade do jogador e a sua velocidade, já que estamos acostumados a que a composição corporal do jogador de futebol, tradicionalmente, seja de uma compleição mais magra, com uma musculatura muito trabalhada, mas de volume reduzido.
Por outro lado, há quem opine que uma maior massa muscular vai permitir realizar as ações de jogo a uma maior intensidade e isso vai reduzir o risco de lesão da musculatura, uma vez que podem suportar maiores cargas.
Índice
Quais são os músculos com maior exigência no futebol?
A musculatura do trem inferior é a que mais exigências tem durante a prática do futbeol, mas devemos ter em atenção que toda a musculatura do nosso corpo vai atuar em todas e cada uma das ações que realizamos.
Portanto, devemos prestar atenção ao conjunto do nosso sistema musculoesquelético se queremos que o nosso rendimento seja o melhor possível.
“Uma cadeia é tão forte como o seu elo mais frágil”.
De nada nos serve ter um trem inferior muito potente ou com uma elevada massa muscular, se a musculatura do nosso core, por exemplo, não é capaz de estabilizar os movimentos que nos exija cada ação dentro de campo, já que esta função estabilizadora será igualmente necessária para realizar a ação de forma a obter o êxito desejado.
A existência destes desequilíbrios, além do mais, são um motivo de um risco de lesões muito importante para o futbolista.
Músculos com maior risco de lesão
Como comentámos anteriormente, um dos maiores riscos de lesão muscular no futebol passa pela existência de desequilíbrios dentro das cadeias musculares requisitadas em cada uma das ações que realizamos em campo.
Estas ações, como podem ser a de realizar uma corrida a máxima velocidade ou saltar à disputa da bola, não são mais do que a soma de diferentes ações musculares sincronizadas pelo nosso Sistema Nervoso Central.
Portanto, se um dos elos não está preparado para a intensidade que uma determinada ação vai exigir à cadeia, esta vai derivar numa lesão por excesso de esforço.
Se passamos a falar de músculos concretos, a literatura coincide que a lesão com maior incidência no futebol profissional é a lesão dos isquiotibiais.
A última publicação da epidemiologia de lesões da Premier League diz-nos que esta lesão supõe 39,5 % das lesões musculares sofridas no futebol. De acordo com o que nos diz este estudo, o segundo lugar está ocupado pelas lesões musculares localizadas na zona inguinal (25%) e em terceiro lugar as lesões de quadriceps (15,4%).
Existe um novo perfil de futebolista?
O aparecimento no futebol de elite de vários jogadores com um maior volume muscular daquilo que estávamos acostumados a ver propiciou o debate sobre se o perfil do futebolista está a evoluir para desportistas com uma massa muscular mais hipertrofiada, com maior volume daquele que vemos na atualidade.
Isto despertou um grande debate sobre se os jogadores realizam ou não suficiente trabalho de força e de este pode ser o fator que marca a diferença no rendimento do futebolista nos próximos anos.
No entanto, considero indispensável realçar que, regra geral, todos os futebolistas profissionais realizam um apropriado trabalho de força específico para o seu desporto, e inclusivamente para a sua posição concreta em campo.
Não obstante, é certo que os jogadores, cada vez mais, estão a entender que num desporto cada vez mais profissionalizado como é o futebol, devem cuidar até ao mais mínimo pormenor, não apenas para chegar a ser elite, mas também para serem capazes de nela se manterem ao mais alto nível durante toda a sua carreira desportiva.
Traoré tem uma massa muscular sem precedentes no futebol profissional, assim como com umas capacidades físicas excecionais, destacando a sua potência nos primeiros metros de sprint, assim como a sua força.
Citando as palavras do jogador, Adama “não levanta pesos”, mas sim realiza exercícios específicos para melhorar a sua potência e a sua força, tendo a ajuda de tecnologias isoinerciais, entre outras.
Quais são os benefícios que proporciona ao futebolista um elevado volume muscular?
Regra geral, existe uma relação positiva entre a área de secção transversal muscular e a força absoluta do desportista. Esta relação é especialmente benéfica para o desportista quando este aumento da massa muscular se produz por uma melhora no tecido contrátil (hipertrofia das miofibrilhas do músculo).
Movimentos
Dentro de um desporto de contato como é o futebol, outro dos fatores que se devem ter em conta na hora de enumerar os benefícios da hipertrofia muscular é que esta vai permitir mover-se com um “momento” maior. Sendo o “momento” o produto de multiplicar Massa x Velocidade, um jogador com uma maior massa, deslocando-se a uma mesma velocidade, vai possuir um “momento” maior.
Este maior “momento” do jogador com uma maior massa muscular vai ajudar o futebolista, em caso de colisão ou choque com um adversário, a manter a estabilidade e sair beneficiado do dito choque, em relação ao jogador que chocou contra ele. Isto é algo que se pode ver constantemente no futebol profissional, quando um jogador não é derrubado apesar de os rivais chocarem contra ele para tentar tirar-lhe a bola.
A magreza do futebolista é uma característica antiga? O perfil do jogador de futebol está a mudar?
No entanto, esta maior massa muscular apenas vai beneficiar o “momento” do jogador se a velocidade não diminuir ao aumentar a massa muscular. Portanto, como referi anteriormente, não é assim tão importante a hipertrofia muscular em si, mas que a melhoria das capacidades que provoquem a dita hipertrofia sejam as que mais vão beneficiar o jogador.
Aceleração
Outro fator a ter em conta num desporto intermitente como o futebol é a aceleração. Tanto a força como o volume do jogador têm um papel fundamental neste aspeto, já que a Aceleração será o resultado de dividir a Força entre a Massa. Portanto, a variação destes fatores pode apresentar 3 cenários possíveis:
- Se a força aumenta mais do que a massa do jogador, a sua aceleração vai aumentar.
- No caso dem que a massa aumente mais do que a força, a sua aceleração vai diminuir.
- Se as alterações na força e na massa são proporcionais, a aceleração vai manter-se estável.
Tão importante como a aceleração no futebol é a capacidade de desacelerar, já que é vital na hora de realizar as tão necessárias mudanças de direção neste desporto. Esta capacidade também se verá condicionada pela força do jogador.
Portanto, em relação à Força, a principal conclusão será que a hipertrofia muscular é benéfica para o jogador de futebol sempre e quando for acompanhada de um aumento da força ainda maior, pelo que é mais importante a força relativa (força em relação à sua massa corporal) do que a força absoluta em si mesma.
Velocidade
Outro fator a considerar dentro do rendimento é a velocidade, que não é mais do que a relação entre a distância percorrida e o tempo utilizado em percorrê-la.
Quanto mais força sejamos capazes de aplicar a cada passo do nosso sprint, mais eficiente será a nossa corrida.
Portanto, uma vez mais, é importante que um aumento da massa muscular venha acompanhado de um aumento da força relativa, para que essa maior massa muscular não suponha um peso acrescido, mas que ajude a gerar essas maiores quantidades de força.
Além disso, para gerar maior velocidade, são cruciais outros fatores como a coordenação inter e intramuscular, cuja melhoria é derivada de um treino específico de força orientado para uma melhoria neural (a nível do sistema nervoso).
Técnica
Por último, no relativo à técnica do jogador, uma maior massa muscular não será, como se acredita, um fator limitativo para a mesma.
Se se obteve a massa muscular como consequência de um treino específico, a maior quantidade de miofibrilhas e o maior controlo neural das mesmas vão fazer com que os movimentos sejam mais precisos.
Um estudo que procurava comprovar as diferenças em relação à precisão de pontapé de jogadores de futebol em função da sua massa muscular concluiu que aqueles jogadores con uma maior massa muscular no trem inferior realizavam disparos mais precisos.
Riscos de elevado volume muscular no futebol
O possível perigo de um elevado volume muscular não vai ser nunca dado pela massa muscular em si, mas pelo grau de especificidade do treino que tenha dado lugar a essa hipertrofia muscular.
Trabalho específico adaptado ao futebolista e realizado no ginásio disponível numa cidade desportiva de futebol.
No entanto, se o nosso treino teve como base este tipo de ações com diferentes resistências, uma maior massa muscular, longe de supôr um risco, vai proteger-nos de sofrer as tão temidas lesões musculares.
Conclusões
Uma maior massa muscular será benéfica para o rendimento do futebolista se esta é a consequência de um treino específico para as ações do desporto, e não um objetivo do treino em si mesmo.
Fontes Bibliográficas utilizadas para o artigo:
- Jalilvand, F., Banoocy, N. K., Rumpf, M. C., & Lockie, R. G. (2019). Relationship between body mass, peak power, and power-to-body mass ratio on sprint velocity and momentum in high-school football players. The Journal of Strength & Conditioning Research, 33(7), 1871-1877.
- Chelly, M. S., Chérif, N., Amar, M. B., Hermassi, S., Fathloun, M., Bouhlel, E., … & Shephard, R. J. (2010). Relationships of peak leg power, 1 maximal repetition half back squat, and leg muscle volume to 5-m sprint performance of junior soccer players. The Journal of Strength & Conditioning Research, 24(1), 266-271.
- Young, W., Talpey, S., Bartlett, R., Lewis, M., Mundy, S., Smyth, A., & Welsh, T. (2019). Development of muscle mass: how much is optimum for performance?. Strength & Conditioning Journal, 41(3), 47-50.
- Hart, N. H., Nimphius, S., Spiteri, T., & Newton, R. U. (2014). Leg strength and lean mass symmetry influences kicking performance in Australian Football. Journal of sports science & medicine, 13(1), 157.
- Marinău, M. (2017). Issues concerning the use of strength and power practice, during the preparatory period, for U19 youth football players. GeoSport for Society, 6(1), 7-13.
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- O treino invisível também vai melhorar o teu rendimento no terreno de jogo. Acede.
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- A dieta de um futebolista de elite e como se nota no campo de jogo. Ler a entrada por completo.
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