Vamos contar tudo sobre a Teacrina, uma substância considerada como uma nova forma de cafeína, embora com algumas diferenças.
A sociedade pede claramente alguma coisa:
Substâncias que aumentam o desempenho psicomotor.
Na procura de complexos moduladores do sistema nervoso central surgiram vários agonistas dopaminérgicos, catecolaminérgicos, colinérgicos… Todos com um mecanismo de ação particular e alguns alvos de ação específicos.
Índice
- 1 O que é a Teacrina?
- 2 De onde é que é obtida?
- 3 Metilxatinas
- 4 Propriedades da Teacrina
- 5 Teacrina com Cafeína, para uma Maior Eficácia
- 6 Questão genética
- 7 Como é que afeta o desempenho da performance desportiva?
- 8 A ter em conta…
- 9 Potencial da Teacrina
- 10 Conclusões
- 11 Fontes Bibliográficas
- 12 Entradas Relacionadas
O que é a Teacrina?
A Teacrina (Ácido 1,3,7,9-Tetrametilúrico) é uma molécula homóloga à cafeína, salvo pela adição de uma cetona e um grupo carboxilo ao círculo imidazol.
Figura I. Estrutura molecular do glicerol.
E o que é que isto significa?
Graças à estrutura química, tal como o resto das metilxantinas, possui a capacidade de estimular o sistema nervoso central.
Mas quanto? Como é que conseguimos saber?
Uma vez que é o principal fator limitador das purinas para alcançar os recetores dos neurónios que nos “mantêm ativos”.
De onde é que é obtida?
Na procura de um alcaloide com efeitos semelhantes, conseguimos encontrar o ácido tetrametilúrico (ou teacrina), uma purina metilada até há uns anos desconhecida, que conseguimos extrair do chá kucha e, claro, aprendemos a sintetizá-la em laboratório.
Figura II. Representação gráfica da obtenção de Teacrina a partir do chá kucha (Camellia Assamica var. Kucha). (Li et al., 2015).
Porque graças à sua estrutura química, muito semelhante à molécula da cafeína, verificou-se que é possível ser o futuro substituto desta.
Será que estamos perante a nova cafeína? Continua a ler…
Metilxatinas
São substâncias com uma estrutura de purina (como a cafeína, teobromina ou teofilina) são metilxantinas, substâncias naturais (e legais) com as seguintes propriedades:
- Efeitos catecolaminérgicos (para estimular a secreção de epinefrina e norepinefrina);
- Mecanismo direto de vasoconstrição (por agonismo dos recetores α1 e α2);
- Estimulação cardiorrespiratória (por agonismo β1);
- Dilatação coronária, broncodilatação (por agonismo β1);
- Diurese (devido ao aumento da secreção de ácido úrico no túbulo contornado proximal); e
- Estimulação do sistema nervoso central (por antagonismo recetores A2A, aumento da densidade de D2r e aumento do metabolismo glutâmico).
É esta a razão pela qual a cafeína é superior às restantes metilxantinas para estimular o sistema nervoso central, promover a concentração, e a velocidade de reação; a razão deve-se ao facto de possuir uma estrutura mais lipofílica que as restantes metilxantinas, que melhora o transporte e o agonismo da substância (Monteiro et al., 2016).
Figura III. Efeitos centrais e periféricos da ação das metilxantinas. (Monteiro et al., 2016).
Propriedades da Teacrina
A Teacrina possui a capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica mais facilmente.
No seguinte gráfico podemos ver como desde os 15’ até às 2h, as concentrações de Teacrina no plasma e no cérebro correlacionam-se de forma quase perfeita (Li et al., 2015):
Figura IV. Correlação entre as concentrações de Teacrina no plasma (colunas preenchidas) e no cérebro (colunas por preencher); 15 min, 30 min, 1h, e 2h após o seu consumo. (Li et al., 2015).
O caráter lipofílico de uma substância é aquilo que lhe fornece uma maior força condutora e, por isso, maior capacidade de chegar ao recetor alvo, ou difundir a camada lipídica dupla; ou seja… Mais potência
Apesar disso, uma substância extremamente lipofílica pode conduzir a uma forte toxicidade; devido à grande capacidade de transporte, ligação e retenção; pode ser uma substância que precise de mais tempo de metabolização e que portanto tenhamos durante mais tempo a atuar no organismo.
É por isso que as substâncias farmacológicas se costumam recomendar as mais hidrófilas (desde que tenham o poder de ação) melhor; porque são simplesmente mais seguras.
Mas não, não sabemos ao certo porquê, mas de facto, é ligeiramente mais “suave” do que a própria cafeína; pode ser devido ao facto de a adição da cetona à molécula ou, provavelmente devido a uma mistura de um coeficiente de distribuição logarrítmica mais baixo, ligado a uma menor biodisponibilidade (He et al., 2017).
O que é que estou a tentar dizer com isto…?
Teacrina com Cafeína, para uma Maior Eficácia
A coadministração de Cafeína juntamente com a Teacrina aumentava significativamente a atividade desta última.
Os dados da tabela apresentada mais abaixo são claros: a Teacrina, sozinha, demora a alcançar a concentração máxima no sangue, é eliminada primeiro do organismo e são necessárias maiores quantidades para alcançar os efeitos.
Figura V. Metabolismo da Teacrina após o consumo de 25 mg (condição 1), 125 mg (condição 2), e 125 mg + 150 mg de cafeína (condição 3). (He et al., 2017).
O que é que estou a dizer?
Que tendo em conta que 150 mg de cafeína alcançam uma concentração máxima de 33.4ng/mL; e que a Teacrina sozinha alcança 34.1ng/mL (praticamente o mesmo), mas é mais hidrófila e por isso menos forte; e 150 mg é uma quantidade com pouca cafeína, enquanto 125 mg é uma quantidade rica em Teacrina…
A Teacrina NÃO é o substituto da cafeína…
Questão genética
Além disso nunca é de mais recordar que aquelas pessoas que apresentem um genotipo de CYP1A2 com um ou ambos os alelos C, são considerados “metabolizadores lentos” (um termo incorreto, evidentemente) e mostram um efeito ergogénico menor (no caso de AC) e inexistente ou inclusive negativo (no caso de CC) perante o consumo de cafeína.
Esta associação parece ser dependente de consumidores habituais de xenobióticos metabolizáveis por esta via (fumadores e consumidores habituais de café).
Figura VI. Tempo numa prova de velocidade após o consumo de um placebo (barras preenchidas), e cafeína em quantidades baixas (2mg/kg, barras ponteadas), e em quantidades moderadas (4mg/kg, barras por preencher); segundo o genótipo apresentado de rs762551. Mostra o efeito positivo da cafeína apresentado no genótipo (A; A) e negativo no (C; C). (Guest et al., 2018).
Esta é a razão pela qual, potencialmente, nascemos com a nossa resposta individual pré-definida.
Como é que afeta o desempenho da performance desportiva?
Como praticamente nenhum estudo analisa o genótipo apresentado nos indivíduos que participam, podemos encontrar resultados como estes:
Figura VII. Alterações a 1RM de press banca e agachamento após o consumo de placebo, 300 mg de Teacrina, 300 mg de cafeína e 150 mg de cada substância; em indivíduos que treinam. (Cesareo et al., 2019).
Nem 300 mg de cafeína, nem 300 mg de Teacrina, nem mesmo a sua combinação (uma quantidade bastante alta), demostraram aumentar absolutamente nada o desempenho dos participantes em provas de força.
Somente a Teacrina (menos de metade da quantidade do estudo do gráfico anterior), aumentou em 27 % o desempenho da performance desportiva dos atletas; estes indivíduos eram na sua maioria, claros “metabolizadores rápidos”.
Figura VIII. Alterações no tempo até à exaustão numa prova de esforço de intensidade máxima após o consumo de um placebo, Teacrina, cafeína ou uma combinação. (Bello et al., 2019).
Explicação dos resultados dos estudos
A cafeína é uma das ajudas ergogénicas mais fortes (a nível agudo) que existem no mercado, note-se que a WADA (Agência Mundial Anti Doping) anda há anos a tentar eliminar, e atualmente existem concentrações máximas de metabolitos em urina a partir das quais se considera doping.
No entanto, a nossa genética vai determinar a nossa resposta individual ao consumo de metilxantinas, os alelos apresentados em diferentes SNPs (partes do genoma que sabemos que variam entre indivíduos) associados a certos genes vão determinar a metabolização e os efeitos positivos da cafeína (CYP1A2), os efeitos secundários da mesma (ADORA2A), os efeitos dopaminérgicos e ansiedade (DRD2), ou os efeitos sobre a perda de gordura (ADRB2), entre tantos outros conhecidos e por conhecer.
A ter em conta…
Com tudo o que foi referido anteriormente, apresentamos um pequeno resumo destes dados:
- A Teacrina partilha um mecanismo de ação com a cafeína (e provavelmente de metabolização), embora possua uma farmacocinética diferente:
- Demora mais tempo a alcançar a sua concentração máxima (mais 1 hora).
- A sua potência relativa é menor, e a concentração alcançada não compensa.
- A vida média da cafeína dura 6 horas, a da Teacrina entre 16.5h e 26.1h; como apresenta o genótipo (T; T) em rs5751876 e (C; C) em rs762551; com uma quantidade elevada de Teacrina pode haver insónias durante dois dias…
- A combinação de cafeína e a Teacrina exerce um efeito sinérgico e aumenta a potência estimulante das substâncias.
Potencial da Teacrina
A Teacrina, ao contrário da cafeína, “não gera taquifilaxia”, ou seja, não causa tolerância à utilização.
No entanto, esta conclusão é formulada como base para os relatórios de escalas de relatórios de estado de ânimo, que embora estejam validadas, são muito menos imprecisas (Taylor et al., 2016). Até avaliarmos a resposta fisiológica a um consumo continuado de Teacrina não poderemos concluir isto com uma segurança de 100 %.
E embora partilhem mecanismos de ação, pela sua vida média muito longa (especialmente em combinação com a cafeína), a Teacrina mostrou ser útil na inibição das fosfodiesterases nos neurónios dos ratos, e na melhoria do metabolismo cortical da glicose, após a submissão a fatores stressantes.
Melhora o equilíbrio entre a serotonina/dopamina, de modo a permitir que os ratos ficassem “mais calmos”, a melhorar a sua aprendizagem e a sua memória.
Figura IX. Mecanismo de ação que mostra o potencial da Teacrina de modo a atenuar o défice cognitivo após a exposição a estímulos stressantes através do controlo do metabolismo da glicose (maior atividade da GLUT1 e 3; inibição da LDH, aumento da síntese de 5HT e equilíbrio em neurotransmissores inibitórios/excitatórios). (Li et al., 2015).
Conclusões
A potencialidade da Teacrina no futuro vai ser mais a sua ação nootrópica do que o seu próprio perfil estimulante, relevando este último a simples combinação com cafeína.
Deve-se continuar a investigar, uma vez que a farmacocinética desta purina é interessante e provavelmente ainda não foram esclarecidos todos os seus efeitos potenciais.
Fontes Bibliográficas
- Cesareo, K. R., Mason, J. R., Saracino, P. G., Morrissey, M. C., & Ormsbee, M. J. (2019). The effects of a caffeine-like supplement, TeaCrine®, on muscular strength, endurance and power performance in resistance-trained men. Journal of the International Society of Sports Nutrition, 16(1), 47.
- Di, L., & Kerns, E. H. (2016). Chapter 10 – Blood-Brain Barrier. In L. Di & E. H. Kerns (Eds.), Drug-Like Properties (Second Edition) (Second Edition, pp. 141–159).
- Guest, N., Corey, P., Vescovi, J., & El-Sohemy, A. (2018). Caffeine, CYP1A2 Genotype, and Endurance Performance in Athletes. Medicine and Science in Sports and Exercise, 50(8), 1570–1578.
- He, H., Ma, D., Crone, L. B., Butawan, M., Meibohm, B., Bloomer, R. J., & Yates, C. R. (2017). Assessment of the Drug-Drug Interaction Potential Between Theacrine and Caffeine in Humans. Journal of Caffeine Research, 7(3), 95–102.
- Li, Y.-F., Chen, M., Wang, C., Li, X.-X., Ouyang, S.-H., He, C.-C., … He, R.-R. (2015). Theacrine, a purine alkaloid derived from Camellia assamica var. kucha, ameliorates impairments in learning and memory caused by restraint-induced central fatigue. Journal of Functional Foods, 16, 472–483.
- Monteiro, J. P., Alves, M. G., Oliveira, P. F., & Silva, B. M. (2016). Structure-Bioactivity Relationships of Methylxanthines: Trying to Make Sense of All the Promises and the Drawbacks. Molecules (Basel, Switzerland), 21(8).
- Taylor, L., Mumford, P., Roberts, M., Hayward, S., Mullins, J., Urbina, S., & Wilborn, C. (2016). Safety of TeaCrine(R), a non-habituating, naturally-occurring purine alkaloid over eight weeks of continuous use. Journal of the International Society of Sports Nutrition, 13, 2.
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