Pronador o Supinador?
Sem dúvida nenhuma afirmaria que é uma das perguntas mais comuns entre corredorese, no entanto, na maioria das vezes não sabemos o que significa ou como pode afetar a a biomecânica do nosso movimento.
Neste artigo vamos resolver as dúvidas mais frequentes em relação a este tema.
Índice
O que é a pronação e a supinação?
São dois termos que fazem referência a como é o apoio da planta do pé e a relação entre as articulações do tornozelo e a subastragaliana.
A articulação subastragalina pode realizar movimentos nos três planos do espaço de forma que a porção anterior do calcâneo efetua movimentos em três direções espaciais.
Uma destas direções corresponde-se com os movimentos de pronador e de supinador.
Quando o calcâneo se inclina sobre a sua face interna fala-se de pronação, equanto se o faz sobre a face externa se fala de supinação (Fucci, Benigni e Formasari, 2003; Kapandji, 2004).
Normalmente, toma-se como referência o ângulo formado pela linha do Tendão de Aquiles e a linha vertical média do calcâneo (chamado também osso do calcanhar), para determinar a supinação ou a pronação.
- No caso de ambas as linhas estarem na mesma direção, o grau formado é de zero graus, e fala-se de posição neutra.
- Caso contrário, se as linhas não são paralelas, em função de para onde se produza a inclinação do calcâneo relativamente ao astrágalo ou Tálus, vamos falar de pronação ou supinação.
É importante recalcar a importância do alinhamento das articulações do tornozelo-subastragaliana, com o joelho e a anca, para manter assim uma correta posição e atuação de cada uma das estruturas do membro inferior.
Alguns autores estabelecem a “pronação” como um mecanismo natural para adaptar o pé ao terreno, e a “supinação” como um mecanismo de estabilização do antepé contra o retropé. Assim, neste caso, o pé vai atuar como um mecanismo forte e rígido nas fases de propulsão, protegendo o tornozelo da instabilidade.
Os problemas, a nível de lesões e posturas, derivam quando uma ou outra são excessivos.
E se é certo que não há demasiado consenso acerca dos graus a partir dos quais se deve considerar um problema, podemos falar de uma diferença de quase o dobro de supinação do que de pronação.
No caso da corrida, considera-se que num funcionamento normal da articulação subastragalina durante a corrida, os valores da pronação podem chegar até aos 10º/15º e os da supinação até aos 20º (Aguado, 1997).
Por isso, de acordo com a produção da carga em redor da planta do pé, afetará em como se vai distribuir também relativamente ao resto de estruturas do membro inferior, cintura pélvica etc.
Qual é a diferença?
- Diz-se que um pé está pronado ou que a pegada é pronadora quando a maior carga se produz na parte interior ou existe um ângulo elevado entre o astrágalo e a articulação do tornozelo.
- Diz-se que um pé está supinado ou que a pegada é supinadora se, ao invés, o peso recai nas laterais do pé deixando um espaço entre a fascia plantar e o solo.
Em qualquer dos casos, vai produzir-se uma alteração no apoio, e portanto também na articulação do tornozelo e do resto de estruturas do membro inferior, anca e chegando inclusivamente a afetar a higiene postural.
Em face do anterior, e atendendo à funcionalidade e biomecânica natural do ser humano, a pronação é um movimento necessário com o qual o pé trata de dissipar o impacto que se produz quando andamos e corremos, mas estamos a falar de uma pronação fisiológica em redor de 6 ou 8 graus.
Lesões relacionadas
Ao nível da literatura científica, não existe um consenso no campo científico que estabeleça uma relação direta entre a Pronação e a Supinação (tipo de pé, cavos, plano ou normal), e lesões de membros inferiores.
Vários autores manifestam um maior índice de lesão em atletas com pés cavos com arcos internos bastante elevados.
Temos de analisar:
- Estrutura do pé nos distintos padrões de movimento e a distribuição das cargas e forças de impacto para determinar uma maior ou menor incidência de lesão nos membros inferiores.
- Pontos de maior apoio em posição natural na bipedestação e se existir um bom empilhamento – alienação das articulações do membro inferior (articulações subastragaliana, tornozelos, joelhos e ancas).
Vão dar-nos bastante informação acerca daquilo que outras estruturas dos membros inferiores estão a sofrer maiores cargas e/ou tensões e, portanto, maior risco de lesão.
Como saber se sou pronador ou supinador?
Desgaste das sapatilhas
É muito curioso observar a sola das nossas sapatilhas e do calçado habitual: comprovar se há alguma das zonas da sola que sofre maior desgaste:
- Normalmente, se existe um forte desgaste da parte externa do calcanhar da sapatilha, pode ser um indicador de uma excessiva pronação.
- Se pelo contrário observas alterações ou deformações do material da sapatilha na parte da frente, para dentro, e inclusivamete na parte anterior da sapatilha, pode ser um indicador de uma supinação excessiva.
Desgaste das sapatilhas.
Especialistas e estudo da pegada
Como sempre, perante a dúvida ou se queres conhecer de verdade a saúde dos teus pés, o mais recomendável é ir a um centro especializado de Podologia Desportiva e de Biomecânica.
Aqui vão poder analisar de maneira precisa, tanto parado (pegada plantar) como em movimento: tipo de pé, tipo de pegada durante a corrida e andamento, assim como o alinhamento e higiene posturais derivados de um bom/mau apoio plantar.
São muitas as marcas de calçado desportivo e as lojas que realizam “estudos da pegada”, mas carecem dos conhecimentos e aparelhos necessários para que este estudo seja realmente fiável.
Todo desportista têm de ser pronador ou supinador?
Como já anteriormente referi, a pronação é um gesto natural do pé para absorver certas forças de impacto e adaptar-se ao terreno, enquanto a supinação é um mecanismo de proteção contra a instabilidade do pé em propulsão.
O pé pode adoptar diferentes formas:
- Pé valgo: tendência para caminhar com os pés para dentro, pronação.
- Pé varo: esta vez o apoio realiza-se para o lado externo, supinação.
- Pé plano ou chato: escassa ou nulo arco plantar, pronação.
- Pé cavo: arco plantar aumentado ou com muito arco.
Como escolher a minha sapatilha se sou pronador ou supinador
No momento de escolher o calçado adequado, é necessário que cumpra com 3 características básicas:
- Que proteja o pé contra possíveis danos externos;
- Que seja um calçado funcional, ou seja, que permita ao pé ter uma boa mobilidade e não deforme a sua estrutura;
- Que retire ao mínimo o sentido propriocetivo do pé.
Uma sapatilha com controlo de pronação ou de supinação não chega para corrigir o desalinhamento existente ao nível de controlo motor, antes o perpetua, porque não se obriga o pé a corrigir o movimento.
Conclusões
Existem muitos exercícios de força de pés e tornozelos, de mobilidade articular assim como o trabalho propriocetivo para melhorar a funcionalidade das estruturas musculoesqueléticas.
Se resumirmos o anteriormente referido e ajustando a minha experiência com corredores, salvo graus excessivos de pronação/supinação determinados pelo biomecânico especialista, nos que sejam necessários o uso temporal de palmilhas, particularmente advogo por um exaustivo trabalho de força e mobilidade nos pés, membros inferiores e melhoria do alinhamento das articulações.
Referências Bibliográficas
- Brigaud, F. (2016) “ La Carrera. Postura, Biomecánica y Rendimiento”, Paidotribo.
- Rojano Ortega, D. Y colaboradores (2009), “Análisis de la pronación y supinación subastragalinas en la marcha atlética”, 51-58, Educación Física y Deportes, ISSN-1577-4015.
- Subotnick, S. I. (1985). The biomechanics of running. Implications for the prevention of foot injuries. Sports Medicine (2), 144-153.
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